sábado, 20 de outubro de 2012

Manuel António Pina: 1943-2012

 
Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.

Manuel António Pina, "Não o Sonho" in Atropelamento e Fuga


5 comentários:

Lídia Borges disse...


Bela escolha!

Vai-se a pessoa, fica o poeta. O poeta é imortal.

Beijo meu


Anna disse...

Cabe-nos a nós fazê-lo imortal...

Um beijo e um sorriso :)

sérgio disse...

Que belo!!!
Cheguei aqui num acaso e bonita surpresa!
Gostei e volto!

sérgio disse...

Que belo!!!
Cheguei aqui num acaso e bonita surpresa!
Gostei e volto!

Anna disse...

Obrigada, Sérgio :)
Talvez eu volte também, um dia...
Até lá, deixo-lhe um abraço