Sonho, mas não parece.
Nem eu quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.
Miguel Torga, Orpheu Rebelde
Nem eu quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.
Miguel Torga, Orpheu Rebelde
2 comentários:
Miguel Torga, sempre vivo através das suas poesias carregadas de sensibilidade, de ironia, de alegria, enfim... genialidade!
Sentia-me tentada a comentar um post que não este, mas a força da imagem que escolheste captou totalmente a minha atenção.O poema é realmente fantástico, mas vou ficar à espera das tuas próprias palavras, que "nascem não sei onde, vêm não sei como" e enfeitiçam não sei porquê.
Boa escrita!
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