Há-de haver um espelho onde os meus olhos voltem a ser os meus olhos. Onde o brilho espelhado seja o da minha alegria, tão igual à de quando era menina e corria para a escola com a pasta apertada contra o peito para sentir o cheiro do pão com queijo e marmelada, que haveria de comer no recreio de todas as ilusões. Há-de haver um espelho que me devolva o norte e a luz. Não sei onde, talvez atrás dos montes da minha infância, com as tangerineiras carregadas de frutos inchados, rubros, que me manchavam as mãos e as perfumavam de sumo para todo o dia. Há-de haver numa noite, um espelho onde eu não faça contas à vida nem às rugas. Um espelho redondo, sem princípio nem fim, como os dias de esperas eternas. Há-de haver um espelho onde eu não escreva o teu nome com o dedo, devagar, como só devagar se pode falar das profundezas do mar sem fim, de poesia e de sonhos, de castelos e de deuses. Há-de haver um espelho, algures, um qualquer dia, que responda. Que não me mostre os meus fantasmas. Um espelho de água que engula o rasto das minhas lágrimas. E me devolva o arrepio.
10 comentários:
Mentem sempre os espelhos!
Gosto dos teus textos poéticos, sempre!
Beijinho
Lídia
O pior é que não mentem nunca... :)
Obrigada, Lídia!
Beijinhos e saudades...
Há-de outra forma de o dizer,mas eu fico-me pela mais óbvia... Gosto muito do que escreve, Stora. ;) Respeitoso beijinho
Olhos nos nos olhos
Obrigada, Caríssimo...!
Gosto de ver por aqui a sua pegada digital :)
Beijo
Quase sempre, Eufrázio...
Abraço :)
Voltei só para lhe dizer (talvez já lho tenha dito... estou a ficar velhote...) que estou por uns tempos longe da nossa terra e uma das coisas que trouxe comigo para matar saudades foi o seu "Sete Estórias do Vento Salgado". Gosto de facto do que escreve. Talvez seja pela forma como sente... ;) Andarei por aqui, enquanto a Stora escrever e a minha miopia o permitir...Respeitoso beijinho. ;)
Caríssimo, eu estarei por aqui. E desejando que mantenha olhos de águia para me poder ler sempre que queira. É sempre muito bem vindo!
Beijo
por mais perfeitos, os espelhos dar-lhe-ão, demore, menos luz do que aquela que emite, cara Anna.
Está "pérola" encontrei-a, por aí, no brilho intacto.
um beijo
Gosto muito. Podia ser meu este texto, se eu soubesse escrever assim, Anna.
(Surripiei o link e postei-o no meu blogue.)
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