domingo, 15 de março de 2015

Ponto de interrogação


Como é que eu,
ouvindo tão mal, distingo
o teu andar desde o princípio do corredor?

Como é que eu,
vendo tão pouco, sei
que és tu que chegas, conforme a luz?

Como é que eu,
de mãos tão ásperas, desenho
a tua cara mesmo tão longe dela?

Onde está
tudo o que sei de ti
sem nunca ter aprendido nada?

Serei ainda capaz
de descobrir a palavra
que larga o teu rasto na janela?

(Que seria de nós
se nos roubassem os pontos de interrogação?)

Mário Castrim, in Os Dias do Amor

4 comentários:

Manuel Veiga disse...

grande Mário Castrim...

ensinou muita gente a ver televisão!
e iniciou muitos jovens na escrita no suplemento "Juvenil" do Diário de Lisboa.

beijo

Mar Arável disse...

Partilhei pessoalmente algumas interrogações

Boa partilha

Anna disse...

Beijo, Herético.
Grata pela visita :)

Anna disse...

Obrigada, Eufrázio :)

Beijo