quarta-feira, 12 de junho de 2013

O tempo que nos aproxima

As pessoas que dizem que o tempo cura tudo sabem que não é assim tão fácil. Sabem que o tempo é apenas uma distância. Sabem que o tempo, quando se junta a um grande amor, faz outra coisa: aproxima. E é essa aproximação que transforma a dor da ausência na companhia eterna da saudade.
É o tempo que nos volta a trazer a pessoa amada que partiu. E trá-la de uma forma que não sofre nem morre, portátil e interior, renovando-se dentro da alma como um feliz sossego que nada ou ninguém - nenhuma doença, nenhuma distância, nenhuma traição - pode atingir ou inquietar.
O tempo cura porque aproxima o amor do amor. O tempo purifica a saudade, mas, ao mesmo tempo, dá-lhe vida. A pessoa que se perdeu encontra-se e reencontra-se, sempre diferente da última vez que se esteve com ela, nunca estática, nunca decadente, tão fluída e vívida e essencial como o sangue que nos corre nas veias.
Foi assim que voltou o meu pai depois de ter morrido - e nunca mais se foi embora; nunca mais saiu de mim.

Miguel Esteves Cardoso, "O tempo que nos aproxima" in Como é linda a puta da vida

8 comentários:

Mar Arável disse...


O tempo é incomensurável

pode ser um instante
ou uma eternidade

Anna disse...

(...)

:)

Anónimo disse...

Acompanhei algumas crónicas do MEC, quando a sua amada estava a lutar contra o cancro e que constam neste livro,simplesmente deliciosas. È tão bonito o Amor.JH

Anna disse...

E é tão bonito, este livro...!

Beijo :)

Anónimo disse...

Nem o Tempo apaga a morte.
Muitas vezes o Tempo ajuda-nos a amar mais quem a morte levou.
Eduardo Leblanc

Lídia Borges disse...


Não conheço o livro, mas gostei muito deste excerto que selecionaste.

Beijinho

Anna disse...

Nada apaga a dor da morte, nada. Nunca.

Obrigada pela visita, Eduardo :)

Anna disse...

Foi a última compra que fiz, Lídia. Gosto tanto do MEC...

Beijo :)