domingo, 16 de dezembro de 2012

A Arca dos Medos

 
Ela apertou até acima o fecho do impermeável negro e pensou que provavelmente ia cair. Acreditou que as pernas não suportariam o peso do seu cansaço, da sua dor, da sua tristeza tão indizível, tão funda... Depois deixou que o seu corpo se encostasse aos braços que a amparavam e que não sabia de quem eram... Talvez fossem de alguém que a amava, mas não sabia, não conseguia perceber. Sentia vagamente a chuva atravessar-lhe a roupa e gelar-lhe a pele, percebeu que tremia e que dentro de si não havia mais nada. Perto de si alguém rezava, era uma ladaínha triste e fúnebre que se confundia com o vento cortante, com a chuva, com as lágrimas. A mulher sentia-se exausta e perdida, desejou fugir e no entanto sabia que era necessário permanecer ali até ao fim, debaixo do vendaval. Sabia também que naquele dia, em que se abrira a arca dos medos, o sol não nasceria e seria sempre noite durante muito tempo... Sabia que em breve seria Natal e que desta vez haveria à mesa muita dor e um lugar inconsolavelmente vazio... Sabia que poderiam passar muitos meses, anos até, mas continuaria a ouvir dentro de si o ruído das pazadas cheias de terra molhada e fria que caíam impiedosamente sobre a urna da mãe e que ecoavam como trovões no silêncio gelado do cemitério.  
A mulher tinha perdido o colo. A arca dos seus medos estava aberta. Sem conseguir resistir mais, ela ajoelhou-se finalmente. E em queda livre, com o olhar cego e os braços abertos, caiu aos trambolhões dentro de si.

6 comentários:

Maria Campos disse...

Mas nós, as amigas e os amigos verdadeiros, estamos aqui para continuarmos a nossa caminhada juntos, de cabeça erguida. A vida é assim... No entanto, quem tem com quem chorar, também tem com quem sorrir!

Estou imensamente feliz por te ter de volta!

Abraço-te imensamente!

Edson Marques disse...

Anna,

Meu aplauso!

E flores...

Anna disse...

Abraço-te também, Maria... Também um abraço imenso.

Obrigada, Amiga :)

Anna disse...

Obrigada pelas flores das suas palavras, Edson.

Deixo um beijo e um sorriso :)

je suis...noir disse...

Por um lado foi bom não ter dado pela ausência!

Fico feliz por ter voltado:)

Anna disse...

Obrigada... :)
É bom estar de volta!

Beijinho