segunda-feira, 2 de março de 2009

Chamaste-lhe solidão


Chamaste-lhe solidão. Disseste-o baixinho, rompendo as palavras com um sorriso triste enquanto permitias que se adivinhasse essa dor pesada que te atormenta o respirar. Repetiste a palavra vezes sem conta, como o refrão doído de uma melodia que só tu ouves e que cantas a solo no vazio dos teus dias. Solidão. Solidão no meio dos outros, solidão invisível e silenciosa, que te esmaga o peito e te tira o ar. Nos teus olhos escuros não havia revolta ou angústia, só uma tristeza calma, uma aceitação serena de quem percebe finalmente que não vale a pena combater e se deixa levar como a última folha do Outono rodopiando nos braços do vento norte e tombada no chão, aguarda a viagem libertadora das primeiras chuvas que a levarão para outros rumos, para novos horizontes. Apeteceu-me dar-te a mão, abraçar-te, dizer-te que compreendo essa música que ouves sozinha e que às vezes ela também ecoa em mim... Mas as amigas nem sempre precisam de falar para se fazerem sentir... Muitas vezes ficam só ali a ouvir o desaguar de tantas lágrimas guardadas, escondidas no peito inquieto... Eu entendi do que falavas... e nem sei se reparaste, mas à mesa do café abracei-te com o olhar, beijei-te no esboço de um sorriso e secretamente desejei ter a chave para te libertar dessas grades pesadas como pedras que trazes no coração. Que te esmagam. Te sufocam. E a que tu chamaste solidão.

Sem comentários: