quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Aguarela de Natal


Tento escrever o brilho deste dia. A calma. O céu baixo, naufragado em tons de cinza, o esvoaçar tranquilo das pombas e das rolas, a dança em contraluz dos melros no gramado entristecido do meu jardim. Tento escrever o velho azevinho que se ergue majestoso como um navio, os braços verdes apontando as nuvens, riscando um fio de sol... As flores tímidas pontilhando de roxo a terra negra dos canteiros... O musgo que amacia os muros. 
Tento escrever o Natal, o que existe dentro do meu peito, no coração preso às árvores derrubadas pelo tempo, tombadas de saudade... Mel e canela, na chama da minha memória. Risos e colo. Caramelos de nata com rótulo espanhol. Fotografias desfocadas em papel brilhante que nunca ninguém rasgou. Beijos, muitos beijos.
É Natal e eu não escrevo, nada digo. Prendo-te no silêncio dum abraço infinito, deixo que o meu coração de pássaro se ilumine nas linhas suaves dos versos que nunca serão e que encontre a força do fogo que me corre ainda, algures, dentro das veias...


A si que me visita, desejo um Natal cheio de paz.

12 comentários:

AC disse...

Anna,
Este texto é um excelente presente para quem aqui passa. Obrigado.

Feliz Natal!

Anna disse...

Obrigada, AC.
Um feliz 2015!

Mar Arável disse...

Tudo pelo melhor

Anna disse...

Feliz 2015, Eufrázio :)

Anónimo disse...

E realmente um belo presente, um belo texto para quem passa por aqui ... cheio de magia, sentimento e transparencia

Manuel Veiga disse...

belíssima partilha - as suaves linhas de teus versos.

beijo

votos de Bom Ano

Anna disse...

Obrigada, Anónimo :)

Anna disse...

Feliz 2015, Herético :)
Grata pela presença!

Anónimo disse...

Anna, o natal passou e não pude vir, mas estás presente no coração de tantos, e o meu.

Anna disse...

Caro Anónimo, um Feliz Ano Novo!
Obrigada pela ternura :)

Gustavo disse...

Anna,
Adoro a sinestesia da sua escrita, a maneira absolutamente visceral com que se nos entrega, de uma forma tão verdadeira e tão perfeitamente empática que se torna apaixonante.
Como alguém já aqui disse, as suas palavras remetem-me para o surrealismo de um filme de David Lynch ou para um quadro de Salvador Dali onde a magia transcendendo a sua aparente complexidade acaba por emergir através da translúcida pureza de quem se expõe sem máscaras.
Absolutamente fascinante esta sua valsa lenta, totalmente imperdível este seu DE PROFUNDIS!
Grande abraço,
Gustavo

Anna disse...

Gustavo,
Muito obrigada pela ternura das suas palavras...!
Desejo-lhe um 2015 feliz, muito feliz!

Abraço retribuído :)