quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Nas mãos das palavras

 
Gosto de mãos. Gosto da força das mãos. Nelas se leem os gestos mais secretos, os sonhos mais fundos... Com elas se mata e se faz amor. As mãos apertam-se em raivas silenciosas ou abrem-se em ofertas indizíveis, com elas se diz Adeus, se diz Olá, com as mãos tocamos os rostos que amamos e com elas empurramos o peito dos gigantes e dos fantasmas. Com as mãos fazemos e desfazemos, amassamos o pão e abrimos o ventre negro da terra molhada para plantar uma árvore. É nas mãos abertas que guardamos as lágrimas que choramos a sós, e nelas tombam silenciosas as insónias que escorrem das paredes do quarto. Por vezes fechamos os olhos, para que as mãos vejam melhor. E por vezes, tantas vezes, as mãos desenham o sol, desenham a lua, navegam solitárias em memórias de pele... Nas mãos escondemos poemas e medos, tempestades e certezas, com as mãos nos traímos e nos revelamos...
Sim, gosto de mãos. Da fúria e da força das mãos. Da doçura e da maciez das mãos, como asas abertas de aves em voos sem rumo... Tão iguais a palavras, as mãos. Como mãos, as minhas palavras... As minhas palavras, nas tuas mãos.  

8 comentários:

Anónimo disse...

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre

;)

E já agora: http://www.youtube.com/watch?v=h_DATxIHP4Q

;)

Anónimo disse...

Belo....

LeChateau

Mª João C.Martins disse...


Enormes as mãos que assim são, na compreensão das palavras que as escrevem!

Um beijinho grande, Paula.

Anna disse...

Caríssimo Anónimo,

Eu sei que devia estar caladinha, que o Manuel Alegre o diz mil vezes melhor do que eu...! Acho que vou apagar o post... :(

Obrigada pela visita,

Beijo :)

Anna disse...

Obrigada, LC.

Beijo :)

Anna disse...

Oh...! Obrigada, Maria João! :)

Saudades, muitas!

Beijo :)

Anónimo disse...

Apagar o post?
Como diria um ex-ministro da nossa praça - JAMAIS (leia-se em francês).
Gosto se sentir o "vento salgado" das tuas palavras…
E já agora, porquê tão grande admiração pelo Manuel Alegre e igual indiferença pelo Padre Borga?


;)

Anna disse...

Caríssimo Anónimo,

Gosto do Manuel Alegre desde que li o primeiro texto dele, mas ´sobretudo por causa de coisas como esta http://wwwdeprofundis.blogspot.pt/2012_04_01_archive.html
ou entao esta
http://wwwdeprofundis.blogspot.pt/2009/10/voltar-para-contar-te.html
Queria ter sido eu a escrever estes textos e tenho uma profunda admiração pelo autor de quem li já tudo o que havia para ler.
Quanto ao Padre Borga, a minha avó adorava-o... e eu confesso, apesar de lhe reconhecer qualidades humanas, fico de pé atrás... talvez pela semântica do seu nome, nada adequado a um Padre. Mas obrigada por me ter feito recordar a minha avó...

Beijinho e um sorriso :)