Gosto de mãos. Gosto da força das mãos. Nelas se leem os gestos mais secretos, os sonhos mais fundos... Com elas se mata e se faz amor. As mãos apertam-se em raivas silenciosas ou abrem-se em ofertas indizíveis, com elas se diz Adeus, se diz Olá, com as mãos tocamos os rostos que amamos e com elas empurramos o peito dos gigantes e dos fantasmas. Com as mãos fazemos e desfazemos, amassamos o pão e abrimos o ventre negro da terra molhada para plantar uma árvore. É nas mãos abertas que guardamos as lágrimas que choramos a sós, e nelas tombam silenciosas as insónias que escorrem das paredes do quarto. Por vezes fechamos os olhos, para que as mãos vejam melhor. E por vezes, tantas vezes, as mãos desenham o sol, desenham a lua, navegam solitárias em memórias de pele... Nas mãos escondemos poemas e medos, tempestades e certezas, com as mãos nos traímos e nos revelamos...
Sim, gosto de mãos. Da fúria e da força das mãos. Da doçura e da maciez das mãos, como asas abertas de aves em voos sem rumo... Tão iguais a palavras, as mãos. Como mãos, as minhas palavras... As minhas palavras, nas tuas mãos.
8 comentários:
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
;)
E já agora: http://www.youtube.com/watch?v=h_DATxIHP4Q
;)
Belo....
LeChateau
Enormes as mãos que assim são, na compreensão das palavras que as escrevem!
Um beijinho grande, Paula.
Caríssimo Anónimo,
Eu sei que devia estar caladinha, que o Manuel Alegre o diz mil vezes melhor do que eu...! Acho que vou apagar o post... :(
Obrigada pela visita,
Beijo :)
Obrigada, LC.
Beijo :)
Oh...! Obrigada, Maria João! :)
Saudades, muitas!
Beijo :)
Apagar o post?
Como diria um ex-ministro da nossa praça - JAMAIS (leia-se em francês).
Gosto se sentir o "vento salgado" das tuas palavras…
E já agora, porquê tão grande admiração pelo Manuel Alegre e igual indiferença pelo Padre Borga?
;)
Caríssimo Anónimo,
Gosto do Manuel Alegre desde que li o primeiro texto dele, mas ´sobretudo por causa de coisas como esta http://wwwdeprofundis.blogspot.pt/2012_04_01_archive.html
ou entao esta
http://wwwdeprofundis.blogspot.pt/2009/10/voltar-para-contar-te.html
Queria ter sido eu a escrever estes textos e tenho uma profunda admiração pelo autor de quem li já tudo o que havia para ler.
Quanto ao Padre Borga, a minha avó adorava-o... e eu confesso, apesar de lhe reconhecer qualidades humanas, fico de pé atrás... talvez pela semântica do seu nome, nada adequado a um Padre. Mas obrigada por me ter feito recordar a minha avó...
Beijinho e um sorriso :)
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