quarta-feira, 21 de outubro de 2020

DE PROFUNDIS - 13 Anos!


Este blogue faz hoje 13 anos. Não sei como passou o tempo assim tão depressa, a voar, como se tivesse sido ontem que o sonhei e lhe dei forma. Quando o criei, achei-o lindo, achei-o misterioso, achei-o profundo como um oceano ou como uma noite escura. Durante anos, escrevia quase diariamente, mas depois o tempo...
O meu blogue faz anos e não merece este desprezo em que eu o tenho deixado, este abandono de folha caída num outono frio. Sinto saudades dele muitas vezes, planeio sentar-me aqui e escrever... e depois não venho. 
Este espaço continua a ser belo, continuo a gostar dele sem querer mudar nada, nadinha. 
Continuo a ser feliz aqui. Por mais que tarde o regresso.
Treze anos. Guardados aqui. 

Meu querido DE PROFUNDIS!

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Palavras Roubadas



O que me intriga é a razão do teu desejo. Porque é que queres ser mais do que isso que somos: humanos, falhados. Não temos asas, e que mal tem isso?

João Tordo, in Ensina-me a voar sobre os telhados

terça-feira, 3 de março de 2020

Preparar a solidão


Perceber que já se perdeu tudo o que um dia mais se amou,
fazer ordinariamente horas extraordinárias,
ir a diário ao ginásio, esgotar o corpo,
andar frequentemente de bicicleta,
regressar a casa pelo caminho mais longo,
prestar atenção ao que acontece dentro da copa das árvores,
não ter animais de estimação, nem mesmo plantas,
ter coragem para não recolher um cão abandonado,
nas tardes de sol visitar jardins, dar milho aos pombos,
ser amante de livros, de música e de cinema,
guardar longe da vista todas as fotografias,
dançar pela casa, a vontade não precisa de par,
evitar pensar no sentido da vida,
ter um não sei quê de ave migratória,
manter a casa limpa, mudar os lençóis, fazer a cama,
ter em casa chá, chocolate e livros de poesia,
peças de fruta, álcool e cigarros nenhuns,
ter cola, tesoura, agulha, linha, pregos,
o necessário para pequenas reparações,
ter uma caixa de primeiros socorros,
cozinhar em pequenas quantidades,
investir numa chaleira,
numa botija para água quente,
num congelador,
viajar sempre para países distantes,
não ter medo da chuva nem do choro,
não ligar a televisão só para ter luz no escuro.

Raquel Cerejo Martins, "Exercícios de preparação para a solidão", in Página do Facebook

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Palavras roubadas


Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos.

Victor-Marie Hugo

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Por vezes

Por vezes,
de um dia que vivemos,
de um filme, de um poema,
por vezes de alguém,
conservamos uma palavra.
Não saberemos explicar porquê,
mas essa palavra aloja-se dentro do nosso
pensamento,
atravessa vagarosamente os nossos silêncios,
fecha-se à chave dentro de nós.

José Tolentino de Mendonça, in O hipopótamo de Deus e outros textos