Enquanto o médico escrevia a receita com os comprimidos para dormir, a mulher pensava. Não os tomaria. Sorriu até com desdém da inocência daquele homem que nada tinha entendido. Ela não queria dormir. Nunca mais. Como contar ao médico que o sono lhe roubava as memórias que queria conservar e avivava as que ela queria esquecer para sempre? Como contar dos passageiros da noite, os invisíveis, que lhe arrancavam a pele enquanto dormia e a deixavam despida, a sangrar do lado de dentro? Como explicar que a noite tem negros dedos longos que se entrelaçam à volta do seu pescoço e lhe apertam a voz, lhe roubam as palavras de que precisa para contar o que acontece em si?
1 comentário:
Ok! Voltemos aos "Dias da Serpente"...Apesar de tudo parecem-me mais saudáveis...
;)
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