domingo, 13 de maio de 2012

Não penses


Não penses. Que raio de mania essa de estares sempre a querer pensar. Pensar é trocar uma flor por um silogismo, um vivo por um morto. Pensar é não ver. Olha apenas, vê. Está um dia enorme de sol. Talvez que de noite, acabou-se, como diz o filósofo da ave de Minerva. Mas não agora. Há alegria bastante para se não pensar, que é coisa sempre triste. Olha, escuta. Nas passagens de nível, havia um aviso de «pare, escute, olhe» com vistas ao atropelo dos comboios. É o aviso que devia haver nestes dias magníficos de sol. Olha a luz. Escuta a alegria dos pássaros. Não penses, que é sacrilégio.

Vergílio Ferreira, in Conta-Corrente

1 comentário:

Lídia Borges disse...

Isso mesmo!
Não pensar, por vezes, faz tanta falta como o pão para a boca. Sobretudo quando está de sol e há flores a perfumar os caminhos dos nossos olhares.
Que desperdício de tempo pensar em horas de se viver.

Um beijo