terça-feira, 30 de julho de 2013

Um corpo a navegar




Nos teus olhos alguém anda no mar
alguém se afoga e grita por socorro
e és tu que vais ao fundo devagar
enquanto sobre ti eu quase morro.

E de repente voltas do abismo
e nos teus olhos há um choro riso
teu corpo agora é lava e fogo e sismo
de certo modo já não sou preciso.

Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua.
 
Manuel Alegre, in Sete Sonetos e Um Quarto
 

6 comentários:

Anónimo disse...

lindo.

Anónimo disse...

Quero escrever assim. Quem sabe eu consiga em agosto, julho está acabando.

Rosa Carioca disse...

Como é bom ler bons poemas!

Anna disse...

Obrigada, Rosa :)

Beijo

Anónimo disse...

Bom dia!

soneto deveras interessante no que toca ao esquema muito particular de rimas que tem.

Obrigado por ter-me dado a conhecer o nome deste autor, buscarei por outros sonetos dele.

Saudações poéticas,

André

Anna disse...

Olá André :)
Que bom que gostou de Manuel Alegre...! É um dos meus poetas preferidos, com uma obra poética que é um hino à liberdade, à mulher e ao mar.
Volte sempre :)
Saudações poéticas retribuídas!