Então hoje é Verão. Foi o meu primeiro pensamento, ainda de olhos fechados, ainda debaixo dos lençóis, ainda de barriga para baixo - abraçando a almofada - ainda resistindo ao gesto de silenciar o despertador. Hoje é Verão, pensei - e sorri, dentro da escuridão dos meus olhos. Feliz, porque o meu corpo é mais feliz no Verão. A minha alma também. Mas depois saí à rua e o vento norte, gelado, e a pele arrepiada, fizeram-me desanimar: de que serve este dia - o mais longo do ano - se nada muda? Para que serve este dia, que devia ser luminoso e pousar no rosto, nos ombros como uma carícia, que devia entrar pelo peito dentro e encher de calidez os recantos mais escondidos, para que serve hoje a longuidão da luz? E zango-me com o atraso do Verão, com este dia de trabalho que só terminará às 21 horas, com a impossibilidade de estar onde eu queria estar... Porque mesmo que a reunião termine às 20.30 e eu conduza como uma louca, nunca estarei às 22 no Terreiro do Paço, na Lisboa que eu amo, com um casaco de carapuço apertado até ao pescoço a ouvir aquele que deverá ser o mais belo e inusitado dos concertos: o som de cem sinos de 16 igrejas, de 30 embarcações, de seis viaturas de bombeiros, seis elétricos e dois comboios, ouvidos ao longo de sete minutos - "Lisboa em Si", a homenagem da cidade das sete colinas em memória dos sete minutos do terramoto de 1755. Hoje é Verão, o dia mais longo do ano. E acredito que apesar de ainda haver luz no céu às 22 horas, ela não ofuscará o brilho do very light que será disparado da embarcação "Príncipe Perfeito" - o sinal para o arranque do espetáculo. Desconfio mesmo que se eu pudesse lá estar, pouco me importaria o frio e o Inverno que persiste porque durante sete minutos haveria luz e calor e brilho na minha alma - seria Verão e haveria música, uma orquestra inteira a tocar dentro de mim.
2 comentários:
amo o verão.
Eu também :)
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