- Que se passa?
E a pergunta, feita num tom muito baixo, muito suave, rasgou o silêncio, bateu as suas asas de pássaro, elevou-se nos céus do meu desassossego e ficou a flutuar encostada ao fogo do meu peito. Quase tive medo que o visses, que o pressentisses, que o adivinhasses, que o teu olhar acompanhando a pergunta tão simples, me fizesse desmoronar... Ficámos de novo em silêncio, quanto tempo não sei... E depois escondi o que me ardia, suportei o teu olhar infinitamente triste com os meus olhos secos e pousei calmamente a resposta em cima da mesa, entre nós:
- Nada.
O silêncio de novo. O teu olhar de novo, atravessando-me o coração, encontrando as chamas, a devastação no meu peito, lendo-me o medo, o cansaço e a solidão, rasgando a máscara em mil pedaços... E percebi que sabias, que vias para além das vidraças das palavras, que descias ao poço mais fundo do meu coração e adivinhavas o invisível que eu trazia escondido debaixo da pele, errando nos labirintos do meu desnorte... Depois respiraste fundo e disseste - Vai passar. Esse nada vai passar - e disseste-o como só tu o sabes dizer, com a simplicidade e segurança que sempre me dá a tua presença discreta, com o respeito pelas minhas emoções que nunca invades, pelas portas fechadas que nunca tentas arrombar... Assim, simplesmente - Vai passar - os teus olhos sempre segurando os meus, não me deixando cair... Sorriste. E repetiste - Vai passar.
E eu acreditei que sim. Eu soube que sim.
4 comentários:
Venho com pezinhos de lã, com medo de poder atrapalhar de algum modo a perfeição deste "nada que arde"
Vai passar, digo-to eu também, do fundo da minha comoção.
Um beijinho Paulinha!
Lindo espaço!
O nada que é tudo!...
Abraços carinhosos =)
Lídia... claro que vai passar... sempre passa.
Um beijinho e um sorriso :)
Obrigada Nadine :)
Seja benvinda e volte sempre que queira.
Beijinho
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