Agora é Verão, eu sei.
Tempo de facas,
tempo em que se perdem os anéis
as cobras à míngua de água.
Tempo em que se morre
de tanto olhar os barcos.
É no Verão, repito.
Estás sentada no terraço
e para ti correm todos os meus rios.
Entraste pelos espelhos:
mal respiras.
Vê-se bem que já não sabes respirar
que terás de aprender com as abelhas.
Sobre os gerânios
te debruças lentamente.
Com o rumor de água
sonâmbula ou de arbusto decepado
dás-me a beber
um tempo assim ardente.
Pousas as mãos sobre o meu rosto
e vais partir,
sem nada dizer,
pois só quiseste despertar em mim
a vocação do fogo ou do orvalho.
E devagar, sem te voltares
pelos espelhos entras na noite acesa.
Eugénio de Andrade
2 comentários:
Eugénio de Andrade e... Toda a minha sede se faz água.
Adoro, tu sabes!
Obrigada!
Beijo
Até amanhã :)
Sim, eu sei. E tu também sabes...
Um beijo, Lídia :)
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