quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sumo de lua, na madrugada


Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso,
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão-Ferreira, Paraíso

2 comentários:

Lídia Borges disse...

"Podes partir. De nada mais preciso,
para a minha ilusão do Paraíso".

Afinal, parece pouco o que basta para construir uma ilusão...

David Mourão Ferreira. Pois!...

Um beijo

Anna disse...

As ilusões constroem-se com pouco... Precisamos delas para não perder o norte.

Um beijo, Lídia. Até amanhã :))