E depois, o tempo. O secular ritmo das estações, umas atrás das outras. As hortênsias apodrecendo caladas, o rosto azul tombado tristemente nos canteiros onde a terra arrefece... Os pirilampos apagados nas noites ventosas, as tardes que se inclinam lentamente na luz cada vez mais breve destes dias já frios e as janelas que se cerram mais cedo ao arrepio do vento norte... A natureza renuncia à superfície, enrola-se para dentro, esconde-se da chuva oblíqua que lhe fere a seiva e as noites chuvosas emudeceram as criaturas da noite. É outono. Ignora-o o meu corpo que recusa o calor de roupas mais pesadas, ignoram-no as minhas mãos, quentes de poesia, não o sabem os meus pés, descalços na madeira arrefecida, esquecidos do gotejar pungente dos cristais de chuva... Esqueci o caminho de regresso aos dias tristes, às manhãs escuras, ao acender das luzes a meio das tardes intranquilas, aos anoiteceres plúmbeos e melancólicos...
Que merda este desejo de empurrar a porta ao outono, este eterno andar desajustada com os equinócios...
4 comentários:
viver em contra-mão é sedutor...
ainda que os equinócios continuem a descrever a sua inelutável trajectória.
beijo
...o que seria das "hortências" a apodrecer se falassem, o que seria do seu rosto azul se sofressem de melancolia... ó doce ignorância dos equinócios!
Abraço,
Gustavo
P.S."hortências" com "c"(em vez de "s") = personificação? ...pelo menos foi o que pensei, pormenor sublime!
Talvez por vezes seja sedutor, sim... Mas quase sempre, viver em contra-mão é redutor... :)
Beijo, Herético.
Bom fds :)
Obrigada pelas palavras, Gustavo :)
Lamento desiludi-lo, aquilo que tomou talvez por recurso estilístico, não passou de um erro grosseiro que já está corrigido. Hortênsia com "s", claro! Mil desculpas e muito obrigada pela ternura com que sempre me comenta :)
Um beijo, bom fds!
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