No dia da apresentação do livro, a vida lançou os dados ao contrário e, estrangulada por compromissos de trabalho inadiáveis, não pude estar presente. Talvez por isso, não tinha ainda sentido este projeto como sendo também meu nem tinha sorrido com a alegria de ter um trabalho publicado, eternizado na estante dos meus filhos, quem sabe, na biblioteca pessoal dos filhos dos meus filhos... É o lado maravilhoso da palavra escrita, o poder imenso de nos transportar através dos tempos, de nos eternizar como guardiões de instantes fugazes mas indeléveis... Através dos livros, ficamos sempre, mesmo após a nossa morte, como as árvores... E mesmo que ninguém nos compre, nos escolha ou requisite numa biblioteca de bairro, nós estaremos ali, numa solitária estante onde o pó do tempo se acumula, na sombria cave de um alfarrabista falido, vendidos ao desbarato numa qualquer feira de rua ou no porão de um navio que já não cruza os mares. Ficamos. Para sempre, somos um ISBN único, um código de barras que é como uma impressão digital, nos arquivos internacionais... E há um sabor especial e maravilhoso em tudo isto...
Os dois exemplares que tinha encomendado chegaram hoje pelo correio. Depois, foi o prazer lento e demorado de abrir o embrulho, de os ver pela primeira vez, de passar a mão pelo macio da capa, de cheirar o papel... Só então me procurei. Desta vez, a vida lançou os dados certos: encontrei-me na página 27, o primeiro número mágico da minha vida, um número que escolho sempre que posso. Com a página aberta, recuei até ao dia 27 de junho dos meus vinte anos, a um entardecer de calor sufocante que determinou a minha vida... Sim, o meu texto só podia estar na página 27...! Reli-o e encontrei-me outra vez... Este conto foi escrito de um único fôlego, mal tive conhecimento do tema... Corrigi muito pouco, mudei quase nada, era assim que o queria... Gosto tanto dele...!
É uma honra ter sido escolhida pelo júri da Lua de Marfim e ser co-autora da coletânea Confissões. E quando o editor elogiou a minha escrita e me perguntou quando publico uma obra só minha, não tive coragem de lhe confessar as minhas esperanças: talvez 2015 me traga um novo ISBN, a impressão digital que gravará a minha voz eternamente, que guardará para sempre as minhas palavras escritas, ainda que envoltas em silêncio.
4 comentários:
As minhas felicitações por estar publicada.
Essa página mágica dos verdes anos
acredito seja um conto maravilhoso.
O bom gosto da capa tudo o indica.
E parabéns por ser co-autora da colectânea. Hei-de procurar...
(o meu número é o 7)
Um Abraço.
O 7 também é um dos meus números mágicos... :)
Obrigada, Luís. Abraço retribuído.
Quero um desses na minha estante, já!
Só para poder exibi-lo aos meus amigos que eu, sendo a tua fã número um, não estranho em nada o interesse das editoras.
Beijo meu
Vou oferecer-te um, Lídia. :)
O meu ego está enorme, com as tuas palavras...!
Obrigada :)
Beijo
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