Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles, in Obra Poética
5 comentários:
Bom dia Anna.
Sabia que o último desejo de Rubem Alves foi cumprido?
As suas cinzas foram deixadas debaixo de um ipê amarelo e foram declamados poemas de Cecília Meireles e Fernando Pessoa, os seus poetas preferidos.
Cecília Meireles pode ser uma boa sugestão de leitura para este Verão.
Eduardo
Bom dia, Eduardo :)
Conheci o Rubem Alves em 2012 nas Correntes D'Escritas. Veio a Portugal propositadamente para receber o prémio e já então estava muito fragilizado... Recitou Camões e revelou-se um homem tímido, avesso a cerimónias públicas e a homenagens grandiosas. Levei-lhe o "Bufo e Spallazani" para que o autografasse... Perguntou-me como me chamava, sorriu e disse que o meu nome era o mais belo nome feminino que ele conhecia e que por isso que nunca o tinha emprestado a nenhuma das suas personagens... Era uma forma de o conservar como seu... Conversámos um pouco, descobrimos em comum as raízes transmontanas e o amor a Camões, para ele uma figura ímpar da literatura universal.
Ainda bem que os seus últimos desejos foram satisfeitos. O ipê amarelo combina harmoniosamente com o que pude conhecer de um escritor despretensioso e humilde. Também gostava de ter um no meu jardim mas sei que os invernos frios de Portugal o matariam...
Obrigada por me ter feito recordar Rubem Alves. Ele será a minha leitura deste Verão.
Deixo-lhe um abraço.
"Bufo e Spallanzani". Peço perdão pela gaffe... :)
Depois daquele meu estudo do bucolismo em Cecília Meireles, guardei na estante toda a sua obra e tenho vagueado por outras prateleira.
Curiosamente, ontem, "bucolicamente" regresso a ela - Antologia Poética - e vai daí encontro aqui, hoje este poema...
"Eu canto porque o instante existe"
Até já :)
BEIJO
Comunhão de estados de alma... Só pode! :)
Beijo Lídia, até sexta :)
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