Depois de tantas aulas a falar-lhes da mais bela história de amor da literatura portuguesa - a de Pedro e Inês -, depois de termos varrido os textos de variadíssimos autores e de ter sido levada à exaustão a cinematografia, a pintura, a escultura e até a música sem que o tema se esgotasse, achei que estavam prontos. Pedi-lhes um texto que definisse o Amor. De imediato choveram os protestos, as reclamações, as indignações (Ó Stora, que difícil...!!!) e as perguntas da praxe: em prosa ou em verso? quantas linhas? quantas palavras? quantas páginas? E eu, que sou contra textos a metro, deixei-os livres para escreverem o que quisessem. Acalmaram por fim e evocaram a memória ou a imaginação, os autores com que os saturei estes dias, as versões do mesmo tema, como variações de uma só música. Começaram a escrever. É então que gosto de os observar, de olhos distantes ou roendo as canetas, tamborilando impacientes dedos sobre as folhas de papel, escrevendo e riscando, refazendo, corrigindo o pensamento... Gosto de os ver escritores. Gosto de os ver criar.
Estava curiosa, confesso... e não me desiludiram, os meus alunos... Sim, definiram o Amor, sem sombra de dúvida: um sentimento verdadeiro e infinito que respeita a individualidade de cada ser humano; que torna as pessoas sinceras e autênticas; que as fortalece e une contra a solidão; que resiste a todas as forças oponentes - a saudade, a clandestinidade, a censura, o julgamento dos homens e dos deuses; que dá vida e que perdura para além da morte. Escreveram coisas belas, muito belas. Elogiei-lhes os trabalhos, corrigi muito pouco ou quase nada... Depois fiquei a vê-los sair no final da aula, num bando alegre e barulhento, tão jovens e cheios de sonhos... secretamente desejando que a vida lhes dê o maior tesouro que afinal de contas, todos procuramos: um amor feliz.
2 comentários:
ou apenas um amor possível.
Amor é a pitada de irracionalidade que tempera o todo racional...
E que bom que é amar e desconstruir todos os dogmas que do alto da nossa filosofia de vida construida assente nas mais brilhante teorias civica e filosóficas fomos edificando e até partilhando, opinando de forma serena, lucida e esclarecida sobre tudo e sobtre todos...
Quantos de nós não construiram modelos perfeitos para educar os filhos que haviam de vir e depois demos connosco a deixarmo-nos levar por essa coisa estranha que trazemos acomodada no peito...
As tais razões que a razão desconhece...
;)
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