Em abril de 2009, a cidade de L'Aquila foi o epicentro de um sismo de 6,3 graus na escala de Richter que causou 309 mortos, mais de 1000 feridos e deixou centenas de edificações total ou parcialmente destruídas. Os professores e alunos italianos que conheci em Barcelona são pessoas de profundos silêncios e olhares perdidos. Pessoas sem risos abertos, só breves esboços de sorrisos com sombras tristes... E nem podia ser de outra maneira. Como se esquece uma coisa destas? Como se acredita outra vez, com força, num Deus que em segundos nos rouba pai, mãe, cônjuge, filhos, alunos, nos arrasa a casa, a escola, a rua e a cidade onde vivemos? Os habitantes de L'Aquila têm os olhos guardados por memórias e saudades. Sentem-se abandonados. E sofrem.
A escola que me receberá é um pavilhão pré-fabricado, provisório há cinco anos. Lá dentro, alunos, professores e funcionários têm de fazer de conta que a vida continua, que aprender é necessário porque há um amanhã para preparar. Estão contentes e animados com a nossa visita e embelezaram as frágeis paredes com trabalhos sobre Portugal e a cidade da Póvoa de Varzim. Talvez tenham esquecido por momentos o pesadelo do passado e arrancado o luto, ignorado as cicatrizes nos corpos e almas de cada um.
Eu, apesar do aperto no peito, estou preparada. Daqui a umas horas quando chegar a L'Aquila, sei que o que me aguarda já não é a maravilhosa cidade que vejo na fotografia e que me levarão a conhecer muitas ruínas... Que o tempo usado será o pretérito perfeito... Mas levo na bagagem a esperança de lhes fazer acreditar um pouco que Deus é Pai e não os abandonou, que é possível ainda conjugar todos os verbos no futuro.
2 comentários:
Ainda assim, cada nova experiência, vivida com o coração, contribui para um enriquecimento interior que nos torna melhores pessoas...
Beijinho
Lídia
:)
Tens razão, Lídia... Voltamos diferentes... Eu voltei com mais silêncios...
Um beijo.
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