Há um momento em que tudo se condensa numa espécie de vapor. O nevoeiro ou o fumo de uma locomotiva, um filme antigo, a estação ferroviária sempre tão romântica, tudo a preto e branco. A seguir vem a banalidade de saber a importância de reiniciar, como se faz aos computadores, e é por aí que se vai, sem se ter escolha, sempre avançando, mesmo que, mentalmente, estejamos presos a um qualquer momento. Um aeroporto, um lápis gigante, um casaco comprido, uma jóia, uma ideia, um livro. Ficamos presos aí como uma pétala de rosa num livro que nos surpreende, anos depois de o termos lido, um livro que conta o que somos sem que se perceba a origem da clarividência do autor. Tudo é, então, inesperado. Reiniciar. Sim, muito baixinho. Para não acordar fantasmas e monstros, batalhões de gladiadores que se escondem em armários.
Patrícia Reis, "Muito Baixinho" in www.vaocombate.blogs.sapo.pt
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