Gosto de futebol. Gosto muito. Para desespero do meu filho, que me considera uma traidora, não me deixo levar por histerias, sou indisciplinada no amor clubístico e torço por uma série de equipas... Gosto do Varzim, do Porto, do Braga, do Benfica e até da Briosa... Entendo o fenómeno do futebol como uma derrocada de emoções, uma catarse que leva um adepto ferrenho do riso às lágrimas, do desespero à alegria, da fúria à loucura, da excitação ao desalento, numa fração de segundos... Capaz de mobilizar multidões, o futebol é um dos espetáculos mais emotivos para a maioria das pessoas que, infelizmente, se deixa dominar pela irracionalidade e se transforma numa besta agressiva, sectária e violenta, atacando os rivais, arrancando cadeiras ou queimando bancadas, rasgando cartões de sócio e acenando com lenços brancos ao treinador incompetente... É o lado mais negro de um desporto que envolve uma pesada máquina de fazer milhões, da qual os passes dos jogadores, cheios de números, são apenas a ponta do iceberg...
Hoje o Cristiano Ronaldo ganhou a Bola de Ouro 2013. Presa ao ecrã, vi um jovem emocionado e humilde, despretensioso, subir ao palco para receber o seu lindíssimo troféu. No momento do discurso, Ronaldo surpreendeu-me e falou em Português, a mais bela de todas as línguas. Descontrolado pela emoção, deixou que as lágrimas lhe corressem pelo rosto e foi breve nas palavras que usou, sem se preocupar se seria entendido pela plateia que o escutava na Suiça, até porque palavras como "mãe", "filho", "Eusébio" e "Madiba" são universais... Se dúvidas houvesse, falariam por ele os seus olhos rasos de água, a voz que tremia, as feições contraídas num misto de felicidade e dor tão intensas, que são muito poucos os seres humanos que alguma vez experimentaram um minuto assim ao longo de uma vida inteira... São momentos inesquecíveis que a memória grava e guarda para a eternidade. Sempre gostei do Cristiano Ronaldo, do futebol bonito que joga, do seu profissionalismo, das raízes humildes que nunca negou ou tentou esconder, do amor incondicional à família... Hoje, por alguns minutos, com toda a justiça, o mundo rendido aplaudiu-o de pé, reconhecendo-lhe o enorme valor. E Ronaldo soube agradecer com humildade, ciente da sua pequenez, da efemeridade da juventude do seu corpo perfeito que um dia o há de trair e envelhecer, como todos os corpos... Em lágrimas, despudoradamente, homenageou os seus mortos e os vivos que ama, revelando a fragilidade em que se transforma todo o homem capaz de viver um momento único e indescritível. Cresceu e foi ainda maior, entre os maiores.
Parabéns, CR7. E não mudes nunca, miúdo.
4 comentários:
Parabéns ao CR7!...
Gostamos de ver os nossos vencer, nem que seja a feijões.
Muito boa, a tua crónica!
Um beijo
Bonita "moldura" do evento!
Obrigada Lídia :)
Desta vez não foi a feijões... Parece que o "feijão" pesa 7 quilos!!!
Beijo :)
Obrigada Jorge!
:)
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