quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Palavras de fogo


Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

Porque é terrível
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

Eugénio de Andrade, "Nas ervas" in Chuva sobre o Rosto 

2 comentários:

Anónimo disse...

Nossa!!! Assim você me mata...

Mar Arável disse...

O nosso Eugénio

sempre