Saio para o silêncio da noite e deixo encostada a porta das traseiras. Sento-me nos degraus de mármore iluminados pela lua enorme e avermelhada, com o ventre cheio do fogo que se tem feito sentir estes dias. A noite está quente, quieta, cheia de magia... Aos meus pés, com a cabeça entre as patas, os cães fitam-me com olhos meigos e fiéis. Nos campos, bichos rastejam fugidios, talvez buscando a água que lhes falta na terra seca como pólvora, que cheira a estio e a poeira. Deixo a memória escorrer devagar, deixo-a trazer-me o que ela quiser, coisas que eu não sabia que tinha ainda guardadas cá dentro... Quero recordar. E a memória faz-me a vontade, nesta noite de todos os sonhos e de todos os silêncios... Como mel, numa suavidade muito doce, regressam lentos pensamentos, momentos, risos e lágrimas, convocados talvez por uma saudade boa, que não faz doer... que eu não sabia que morava ainda nos lugares do coração. Surgem do escuro, do fundo da memória e brilhando muito, como estrelas solitárias, numa paz que me faz sorrir... De repente, outra vez aqui, outra vez agora, dentro do meu peito... Uma época... Uma idade... Um rosto... Um nome. Uma música. Uma despedida. Uma saudade infinita nuns olhos castanhos cheios de lágrimas...
4 comentários:
Excelente texto, muitos parabens
Adorei
Escreves cada vez melhor, as emoções pulsando em todas as palavras, na pontuação, como só tu sabes usar. Um texto magnífico!
Ensinas-me?
Beijo
António, muito obrigada pelas palavras :)
beijinho
Obrigada, Henrique :)Deixas-me até sem jeito...
Beijinho :))
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