terça-feira, 9 de outubro de 2018

Post-Scriptum


Que interessa quem amei mais? A minha mãe casou para se amparar, o tio Alberto amou toda a vida a cunhada e nem no leito de morte lho revelou, e a minha tia Inês negou-se ao rapaz por quem se apaixonou por estar prometida ao tio Alberto. Todos cumpriram as suas obrigações. Não terem acordado ao lado do objeto amado, não terem iniciado os gestos ou as palavras do amor não amputou a paixão. Amaram na presença e na ausência. É assim que se faz. O amor não anda ao nosso lado, o amor anda à solta nos peitos, como um pássaro engaiolado. Adormece-nos. Desperta-nos. Faz-nos sair e voltar a casa. Chorar. Rir. E se isto não é viver, o que é a vida?

Isabela Figueiredo, in A Gorda

4 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Um texto belíssimo.
Abraço

-gerusa disse...

este livro já estava na minha lista de desejos, agora então...

Mar Arável disse...

Por vezes sequestrados no paraíso

Gustavo disse...

e não é que bastaram estas linhas para eu me apaixonar pela "Gorda"!?... (book wishlist atualizada)