segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Enquanto os deuses dormem...



eu gostava de poder dizer
que entrei no teu corpo como um pássaro
espreitando de invisíveis ruínas
e que o som da tua voz bastava
para me salvar

mas de nada serve inventar palavras
quando as palavras que inventamos
não passam de frágeis lugares de exílio
dos gestos inventados fora de horas
delimitando o espaço de tantas mortes prematuras
de que jurámos ressuscitar um dia

- quando os deuses se lembrassem
de acordar ao nosso lado

Alice Vieira, "Amor e Outros Crimes Em Vias De Perdão" (excerto) in Dois Corpos Tombando Na Água

4 comentários:

Lídia Borges disse...


É um livro que gosto de revisitar.

Belíssimo!

Beijo

Manuel Veiga disse...

"estão gastas as palavras, meu amor..."

já assim dizia outro poeta - esse sim, poeta maior.

beijo

Anna disse...

Um livro imperdível, sim :)´

Beijo, Lídia.

Anna disse...

Acredito que as palavras nunca se gastam... E que Eugénio era um poeta maior, sim.

Beijo, Herético.