quarta-feira, 10 de abril de 2013

A quem?


A quem senão a ti direi
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-de
juntar o que me está doendo ao vento
que não bate mais à tua porta? Eu sei
que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo
sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado
ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.

Não haver palavras és tu a desaparecer.

Bernardo Pinto de Almeida

3 comentários:

Lídia Borges disse...


"Não haver palavras és tu a desaparecer"

Como acabo de escrever num texto
é doloroso o gesto de "pousar" uma sede.


Beijo

Anna disse...

E o teu texto está maravilhoso, como sempre!

Beijo Lídia, saudades mil... :)

Anónimo disse...

lindo