terça-feira, 5 de março de 2013

Dançar de ramo em ramo



Não queiras transformar
em nostalgia
o que foi exaltação
em lixo o que foi cristal.
A velhice,
o primeiro sinal
de doença da alma,
às vezes contamina o corpo.
Nenhum pássaro
permite à morte dominar
o azul do seu canto.
Faz como eles: dança de ramo
em ramo.

Eugénio de Andrade, "De ramo em ramo" in Ofício de Paciência

4 comentários:

Lídia Borges disse...

Que triste, este! ;(

Não restasse essa ínfima possibilidade de preservar a "exaltação", o "cristal" a alegria do que foi...


Um beijo

Anna disse...

"Nenhum pássaro permite à morte dominar o azul do seu canto"... Não esquecer, não esquecer, não esquecer, não esquecer...

Um beijo, Lídia.

Gustavo disse...

Não é fácil varrer a nostalgia do canto da alma, tal como não é fácil ter sempre saudades do futuro (Trovante). Estaremos então condenados a mil passados e nenhum futuro? (ver ou rever "El secreto de sus ojos") Não, os passados também podem ser pontes de futuros! Há é que saber construí-las, passo a passo, no imediato dum presente que balanceia eternamente entre a nostalgia dum passado e a ânsia dum futuro...

Anna disse...

Conseguir esse equilíbrio entre a nostalgia do passado e a ânsia do futuro é uma tarefa árdua, mas sábia... E concordo consigo Gustavo, é imprescindível consegui-lo para encontrar a serenidade.

Bom fds :)