sábado, 15 de setembro de 2012

Filhote...

 
Conduzo devagar e o carro ronrona no asfalto quente com os vidros abertos para não sufocarmos nesta manhã abrasadora de verão tardio. Paramos no sinal vermelho e eu dou-te a mão, como tantas vezes faço, enlaço os meus dedos nos teus nesse gesto de ternura familiar que é a minha mão entre as tuas. Hoje as tuas mãos já são maiores do que as minhas, são umas mãos bonitas e grandes, harmoniosas e elegantes, como as do meu pai... Sem te olhar, sinto-te a presença calma a meu lado, tão serena, tão reconfortante... Sinto o cheiro suave do teu aftershave, um aroma fresco de que gostas tanto e que te ofereceram no aniversário, que vem com a brisa pelas janelas abertas e me bate na  pele e na memória. Conduzo devagar e em silêncio, assim só de mão dada contigo, os nossos dedos misturados... e sinto o coração subitamente apertado porque sei que é o último ano que te terei assim, tão próximo de mim. Penso, de repente, que para ano já não partilharemos a mesma escola, que a vida te vai obrigar a fazer escolhas e a partir, primeiro para outra cidade, depois talvez para outro país... Penso que não te terei mais assim, o teu corpo grande descontraído a meu lado, os olhos fechados e os phones nos ouvidos, livre na música do teu próprio mundo... Penso na falta que me farás, penso que não mais nos cruzaremos nos corredores, que não te verei nos intervalos, que ao final das aulas não estarás encostado ao carro, à minha espera, com o teu sorriso de sol, esse sorriso que te ilumina todo e te enche de brilho... E lembro-me então do primeiro dia em que te levei à escola, tão pequenino, a rebentar de ansiedade, e te entreguei à professora com o coração apertado... Lembro-me de que olhaste para trás, me atiraste um beijo e me disseste - Não te preocupes, eu vou gostar muito, mamã... - (Onde estão todos estes anos, para onde voaram tão depressa, onde os perdi...?)
Chegamos finalmente... E tu guardas os phones, pegas na mochila, refaço as recomendações do costume, abraço-te e ouço-te dizer, tão meigo, tão doce - Boa sorte com os teus alunos, mamã... Não fiques nervosa, vai correr bem, como sempre! - Baixo os olhos para que não me vejas as lágrimas e vejo-te partir ao encontro dos amigos no teu passo seguro e sereno. Vejo-te reencontrar o teu grupo, a tua turma, ouço as risadas alegres e sei que para o ano não estarás aqui, a sossegares-me no primeiro dia de aulas, a acalmares-me o estúpido nervosismo de sempre, com o teu maravilhoso sorriso de sol a encher o meu coração de luz.
 
(Deixo um abraço a todos os meus visitantes... É bom estar de volta... !)

3 comentários:

Lídia Borges disse...


Os passos que se impõe, a vida caprichosa que não dá tréguas, os caminhos que, aqui e ali, se afastam para logo se juntarem, braços de rio que tem como destino um único mar.

Rente à pele.

Um beijo

Rosa Carioca disse...

É bom estar de volta, mesmo!

Anónimo disse...

É bom ter-te de volta.

;)PG