Lembro-me bem, gostavas de tempestades. Eras capaz de as pressentir antes de qualquer outra pessoa, ficavas estranhamente quieto e dizias com serenidade: Os deuses vão falar. E quando finalmente os céus escureciam e a chuva em dilúvio parecia fazer desabar as paredes da casa, encostavas-te à porta da rua como um comandante ao leme de uma nau da Índia, e os teus olhos brilhavam como sóis. Nessas alturas falhava sempre a luz, mas na escuridão, apesar dos relâmpagos que tombavam com estrondo rasgando o ventre macio da terra, eu não sentia medo, agarrada à âncora da tua mão, encontrando o norte na claridade do teu peito em fogo. Parecias-me então estranhamente belo, como os leões majestosos e imponentes, que ao colo da mãe, abrigada dentro do jipe, eu via ao longe na savana.
1 comentário:
Lindo texto, com uma foto bem escolhida!
Bom ter uma mão assim para segurar em noites dessas!
beijos
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