Um vento frio varre as ruas debaixo das nuvens cor de chumbo que se acastelam no céu, de onde a onde esfarrapado de azul. As gaivotas invadiram o centro da cidade e gritam pelos céus os seus gritos tristes, passam em voos rasantes e aninham-se nas estátuas e nos fontanários, nos telhados das casas e nos candeeiros. Já não temem as pessoas, aproximam-se cautelosamente e inclinam as cabecitas implorando pedaços de peixe ou de pão com os olhos escuros cravados nos gestos das mãos que se lhes estendem. Estão inquietas e têm fome, subitamente desalojadas daquele mar imenso, quase negro, que se ergue em ondas majestosas e altivas, assustadoras na sua força líquida. Hoje o mar galgou o areal e enche a cidade com o seu cheiro a sal e a sargaço, cola-se-nos à pele, vem preso no vento e na luz do dia... Há uma magia qualquer em dias assim... Há uma magia qualquer neste mar todo ele força e poder, que rebenta em paredes de espuma e se espraia altivo no seu bramir, reclamando para si o chão que pisamos... Líquido e frio, tão belo...!, oferece-nos o seu perfume único e em cada onda que se recolhe parece sorrir, parece um ventre de água relembrando-nos a nossa própria liquidez, a viagem iniciática, a origem de toda a vida... Sim, há qualquer coisa de mágico neste mar que hoje se faz mais presente na cidade, que plúmbeo se agiganta e enche o horizonte a recordar-nos a nossa insignificância... A nossa pequenez, afinal...
1 comentário:
Olá.
Adorei seu blog,parabéns.
Até mais
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