segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O fio da Felicidade


A mulher parou para ouvir o silêncio. Respirou devagar o tempo suspenso por um fio, o fio da felicidade, tão ténue e tão frágil, tão difícil de agarrar... Sentiu vontade de prender esse instante entre os dedos das mãos, de o gravar a fogo na memória para mais tarde lhe iluminar a aridez dos dias solitários. Caminhava devagar atenta ao piar dos morcegos e ao negro das suas asas que riscavam velozes a escuridão dos céus. Nas suas costas, a majestosa catedral acendera todas as luzes e fazia-se presente como uma testemunha fiel e silenciosa dos amores que nunca foram, dos que permanecem sagrados, intocáveis, sem sombra de culpa ou de pecado. Os amores imortais.
Fora nesse local que ele lhe dissera o quanto a tinha amado, que lhe contara finalmente do amor guardado no peito como um tesouro fechado a sete chaves e que o abismo dos anos não esbatera. Um amor que levara para todos os cantos onde estivera e que o acompanhara nas horas felizes e nas mais dolorosas. Um amor feito só de uma saudade infinita e de memórias que não se apagavam. Nunca se apagavam.
A mulher voltou-se e olhou a cidade ao longe, estendida aos seus pés. Sentia-se feliz naquele local sagrado. Há lugares assim, feitos só de silêncio e de solidão, como páginas que nunca foram lidas e permanecem suspensas no livro da vida... Lugares onde se confessam amores eternos e onde se promete não regressar com mais ninguém. 

6 comentários:

Lídia Borges disse...

Há lugares assim. Feliz de quem os tem presos por fios inquebráveis na felicidade dos instantes sem tempo que se aninham na memória.

Beijinho

Anna disse...

Quem sabe, Lídia? Talvez existam mesmo lugares assim...

Beijo :)

Henrique disse...

Há lugares assim. E há mulheres que são amadas para sempre... sem saber.

Beijo, Princesa.

Mª João C.Martins disse...

Haverá sim, lugares assim, onde o amor se revelou um dia tornando sagrado um instante apenas. Lugares por onde a alma viaja, quando precisa de bordar a vida com todos os fios de felicidade suspensos no tempo.

Um beijinho, Paula

Anna disse...

Mas elas merecem saber, Henrique. Alguém deveria contar-lhes que são amadas...

Bom Ano para ti :)

Beijo

Anna disse...

Tão lindas as tuas palavras, Maria João... :)
Obrigada pela visita, um Bom Ano!

Beijo