sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Entrar em ti



Entrar em ti através do silêncio. Deixar aninhadas no teu corpo as minhas palavras, todas as que tenho, enroscadas nos teus lábios como se fossem um presente que possas respirar quando eu partir. Entregar-te as palavras, embrulhadas em vazio, feitas de luz apenas. Irás lê-las no escuro da tua solidão, quando eu me for. Eu sei. E sentirás o vento de que te falo, cheio de sal e de espuma das ondas que se desfazem no corpo gelado e frio dos rochedos, saberás ler as estrelas e navegar nos mares cujas rotas não esqueceste ainda... 
Só sei entrar em ti assim, pela porta do silêncio, tão pesada no meu peito, tão frágil e insegura na ponte que te encontra... Por isso, não digas nada. Estende-me o silêncio. E não finjas sequer que me viste entrar.

4 comentários:

Mª João C.Martins disse...

Silêncios...

Tanto que se diz, no tanto que se esconde dentro de um silêncio.

Lindo, Paula!

Beijinhos

Anna disse...

Silêncio... Um texto tão fácil de escrever... tão difícil de ler...

Um beijo, Maria João. Sinto saudades... muitas.

Lídia Borges disse...

Anna, querida Anna, a tua poesia tem essa música inquita a tocar-nos a pele. E tu ofereces silêncios como quem oferece vendavais, sinfonias de água e sal na espuma branca das ondas.

Beijinho

L.B.

Anna disse...

OH... Não sou eu, Lídia... São as palavras que me moram cá dentro. Eu só lhes abro a porta.
Obrigada! :)

Beijo, saudades, mil!