domingo, 6 de fevereiro de 2011

O horizonte a norte da dor


Percorro com mansidão os labirintos mornos da memória e deixo que a cada esquina as recordações me rebentem no rosto como granadas... Quero decantar uma música, guardá-la pousada nos lábios e bebê-la devagar, como se fosse um vinho vermelho escorrendo espesso de doçura pelas margens do meu corpo, pousando-me na pele, perfumando-a de saudade... Saboreio as imagens que desfilam em paradas de felicidade, sentinelas fiéis de outras vidas que (ainda não) vivemos e que (ainda não) se perderam... Dizer-te baixinho que há um horizonte mais a norte da dor e que chegaremos juntos e inteiros, depois do tempo que se queima, depois do tempo que nos queima... Sorrir-te... e contar-te o tamanho do meu sonho, cravar-to no coração enquanto em silêncio passam lentos os barcos cortando o sal do vento, e o sol morre devagar fazendo sangrar os céus a ocidente.

6 comentários:

Anónimo disse...

Um texto que faz ponte...

Um beijo
LC

Anna disse...

As palavras são pontes, LC. Todas as palavras.

Um beijo

Anónimo disse...

"...que nunca caiam as pontes entre nós..."

Pedro Abrunhosa

Um beijo
LC

Anna disse...

... gosto tanto :)

Um beijo

Unknown disse...

No poente da vida, onde muitos sóis vermelhos foram morrer,
navegaram mil barcos no silêncio das marés, no fluir dos ventos
que transportam sonhos sem tamanho, nem tempo, nem forma,
que não chegam ao limiar dos tempos passados, sem horizontes,
eu bebo de outras fontes, que não vinho mas sim fel, que sinto
como mel de anseios perdidos,saudosos, medrosos, fingidos,
escondidos, remoídos...
Tento lembrar o que tenho que esquecer, de pensar o que esqueci
de viver, de valsas que não dancei, de rostos que não beijei,
de amores desamorados, de todas as dores dos meus passados.
E continuarei a viver até o sol se pôr.

Anna disse...

É muito, muito bonito, Joe.

Beijinhos