quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Chamo-te "meu"...


Chamo-lhe meu. O meu mar. Não que tenha sobre ele qualquer direito de possessão mas o meu coração reclama-lhe a pertença. Porque é preciso saber amar o mar. E não conheço nada mais fascinante, mais insondável e misterioso, mais perturbador ou belo... Gosto de tudo nele, da maneira como muda de cor, do cheiro, da meiga mansidão azul dos dias quentes e mais, muito mais, da fúria incontida das vagas alterosas que se elevam em espuma e força, que rebentam no negro das rochas, desfeitas em vento salgado... Gosto de ouvir a voz do mar, a única música cujos acordes são impossíveis de decorar ou prever, porque é sempre diferente... E no entanto, tão igual a si própria, na canção que acalma ou perturba... Sempre intensa, como uma poesia que não sabemos de cor mas cujas palavras reconhecemos nas primeiras sílabas.
Hoje dizia-se que de tarde, o mar galgaria a estrada. Acontece raramente, mas é um espectáculo lindíssimo... E quando o mar recua, deixa a areia abandonada nos passeios, em montes de uma branquidão inesperada, com salpicos de luz e brilho...
Chamo-lhe meu, sim. Chamo-lhe meu porque entre muitas outras coisas, o mar traz-me as palavras de volta... Quando julgo que as perdi, o mar abre as portas do meu peito e permite o regresso das palavras... De todas as palavras.

10 comentários:

Maria Campos disse...

Descreveste maravilhosamente aquilo que eu sinto !!!!!!!!!!!!!!!!

Permites que le chame "nosso..." ?


Beijoca, "madrinha"...

Anónimo disse...

Eu também o chamo de "meu..."
Foi junto dele que nasci, cresci e vivi. Meu confidente de muitas horas, meu companheiro de inúmeras viagens. O "meu" mar...
Bonito texto De Profundis. Gostei muito. E não me importo de o partilhar contigo...

Lídia Borges disse...

Como vagas gigantes este dizer sobre o [m]teu mar.
As palavras nunca estão perdidas. Pelo menos as tuas.
Às vezes não estamos, suficientemente, atentos para "ouvirmos" a palavra transfigurada que procuramos.
O mar obriga a escutar.

O teu texto obrigou-me a "ver".

Um beijinho

Anna disse...

Permito sim, Maria :) O "nosso" mar.

Beijinho

Anna disse...

O "nosso" mar será, Alquimista.

Um beijo

Anna disse...

Lídia, obrigada... Sinto tantas saudades tuas...!

Beijos, muitos, muitos.

Anónimo disse...

Ainda há pouco tempo o teu mar foi meu confidente...
Não resisti à tentação de me aproximar dele e tocar-lhe, lavar
o meu rosto na sua água salgada, fixar o meu olhar na sua imensidão...e sentir-me um estranho,um homem das montanhas junto ao mar ...
Um beijo
LC

Emoções disse...

Quem não gosta dele?
No Inverno ainda mais!
É a natureza bruta. Com as suas vagas gigantes(tal como na tua foto) torna-se ainda mais bonito.

Anna disse...

LC, viste bem como é belo, o meu mar? Como é infinito na sua beleza?

Um beijo

Anna disse...

Tens razão, Dina. É muito mais belo o mar no Inverno, na solidão das praias desertas...

Um beijo, saudades :)