Fernando Pessoa morreu há 75 anos. Alguns jornais, alguns canais televisivos, algumas estações de rádio terão recordado fugazmente o facto, mas o país passou adormecido ao largo da data de hoje, num sonolento bocejo colectivo que me faz pensar com tristeza no quanto amamos mal os nossos poetas. E Fernando Pessoa teria merecido que o recordássemos hoje. Ele que foi tão grande, teria merecido uma homenagem, ainda que singela, neste país que se desgasta invariavelmente com a crise, o Orçamento de Estado, o FMI, o Emmy da TVI, os blindados e a cimeira da Nato, a contenção de despesas e o limiar da pobreza, o futebol e as telenovelas... Neste país tão triste não se sorri aos poetas, aos seres imortais, que resistem ao tempo porque escrevem palavras de ouro que se gravam a luz no coração humano. Fernando Pessoa não foi só um poeta, foi um grande poeta, daqueles que surgem uma vez em cada século e permanecem espalhados pelo mundo, traduzidos em todas as línguas... O poeta que sonhava o Quinto Império, é afinal de contas, um rei mendigo num reino pobre e ingrato. Teria merecido mais, o homem das mil almas, o ser estilhaçado e triste, o paladino da solidão e do cansaço que escrevia como mais ninguém soube escrever...
Por tudo isto (e porque estou zangada e triste) deixo hoje, aqui, um poema de Pessoa, o poema que os meus alunos escolheram e elegeram unanimemente como o mais belo. Para que não seja nunca esquecido.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa, "Mar Português" in Mensagem
5 comentários:
Dizes tudo. Dizes bem!
Um beijo
Oi...
Posso imaginar quão difícil foi escolher um texto para postar como homenagem a ele...
O meu Desassossego nasceu dele e quanto mais o leio, menos sei de mim e mais preciso dele. felizmente , está em minha cabeceira.
beijo. Foi bom estar aqui.
Um beijo, Lídia.
Foi difícil sim, Gizelda. Por mais que se leia Fernando Pessoa, nunca se descobrirá a profundidade da sua alma.
Ainda bem que vieste, volta sempre :)
Um beijo
Pessoa é único.
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