Às vezes acontece-me. Às vezes as palavras, todas as palavras que eu quero dizer, não nascem em frase nenhuma. E depois, sabes, sufocam-me. Fazem-se pedras dentro do meu peito e pesam muito fundo, algures, nas encruzilhadas do coração... São ondas que rebentam em angústia. São facas. E então, eu tombo... Tombo para dentro de mim, para o lugar mais escuro nos confins de um poço onde sei que ninguém me alcança. Às vezes acontece-me. Às vezes não quero que me encontrem, que saibam de mim, que sequer ouçam os meus passos... Escorrego devagar para o avesso de mim e fico em silêncio... Como um bicho qualquer, enrolo-me para dentro, recolho as pinças, mudo de cor e fico imóvel. Embrulho-me numa tristeza a que não sei dar nome. E dói-me, dói-me muito. Como se me tivessem dado um tiro no coração.
Às vezes, tudo isto acontece em mim...
10 comentários:
Desenrola-te já!
Às vezes é preciso que os outros saibam de nós.
Onde estás?
Beijinho
O texto como sempre é magnífico. Mas a tristeza que sai das palavras também é como um tiro no meu coração, faz-me lembrar coisas más. Como eu te compreendo...
De Profundis venho sempre aqui mas nunca comento. hoje parei para dizer-te que também me acontece a mim, muitas vezes e acho que a toda a gente. nao estás sozinha.
beijinhos
Um beijinho, Lídia.
Abraço-te.
A expressão "faz-me lembrar" significa que é passado, ORPHEU. E é bom quando passa...
Beijinho
Eu sei, Nicole. A necessidade de isolamento e introspecção é uma das características do ser humano, não minha. Eu sou apenas isso, uma entre biliões...
Obrigada pelas palavras.
Um beijinho
e tu? nunca deste um tiro no coração de alguém?
Talvez tenha dado, caro Anónimo.
Gostei muito!(mãe de uma aluna)
Obrigada pelas palavras e pela visita. É bom receber as mães das minhas alunas neste cantinho :)
Volte sempre.
Beijinho
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