Não gosto da Páscoa. E no entanto, lembro-me que não foi sempre assim. Havia um tempo em que a Páscoa era roxa, as buganvílias vergadas com o peso das flores explodiam em perfume à porta da casa da minha avó. Abraçavam-me enquanto eu subia as escadas e derramava o olhar sobre os montes castanhos que ladeavam o rio... Sempre achei que aquelas buganvílias me conheciam e me sorriam... Havia um tempo em que a Páscoa cheirava a folar de presunto com ovos caseiros, pingado de azeite nascido no nosso quintal, cheirava a mel e a compotas coloridas... Era um tempo em que eu calçava sandálias novas e vestia vestidos de manga curta, um tempo em que ainda ninguém tinha morrido e a casa sorria, lavada com esmero, refulgia no seu brilho cheiroso... Havia um tempo em que as Páscoas se passavam na larga varanda de cima, onde eu me pendurava para escalar a velha figueira, tão perto do céu... e onde as conversas se demoravam pelas noites mornas, as cigarras enlouquecendo num cantar infinito, e as estrelas tão perto de mim... Lembro-me que estendia os braços, estendia as mãos com os dedos abertos, e nas pontas dos pés, tentava agarrar as estrelas...
Desse tempo só me ficou a saudade, uma saudade colada a mim... e esta mania doida de tentar agarrar as estrelas...
4 comentários:
...então partilhamos da mesma mania doida =)
Beijos e é Pascoa!
Um beijo, Kleine.
E um :)
Estás a falar da tua avó Ana.
Eu também gostava muito dela.
Tenho uma vaga ideia que na parte detrás da casa havia um quintalzinho.
Estou enganada?
Beijinhos da Dina.
Dina, é da minha avó Olímpia que falo e das Páscoas em Trás-os-Montes, há muitos, muitos anos atrás...
Um beijinho :)
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