terça-feira, 26 de agosto de 2008

Deixo...


E pronto. A hora é esta. Aqui a estrada estreita-se e não cabe ninguém ao meu lado... Não levo nada comigo mas o meu peito está cheio das vozes e dos olhares dos que me amam e na pele sinto ainda o calor dos abraços dados com ternura. Comigo irá todo o meu mundo de afectos, o único tesouro que possuo.
Agora tenho mesmo que trilhar este caminho sozinha, mas... sabes, não me sinto só... Porque sei que me esperas, por mais que eu tarde, sei que me esperas.


sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Palavras perfumadas


Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

(...)

Florbela Espanca, Sonetos

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Há dias... de quatro folhas


Hoje a vida ofereceu-me um dia cheio de emoções, de sentimentos fortes e contraditórios. Não há muitos assim e pela violência com que são sentidos sabemos que ficarão connosco para sempre. São dias de lágrimas, de angústia, de alívio e de felicidade... Dias em que o coração bate mais forte, o peito oprime-se, as borboletas no estômago dançam inquietas e as mãos tremem... Dias de sorte. Inesquecíveis!... Para deixar guardados, só nossos, a amarelecer nas páginas da memória.
E hoje o meu dia foi um trevo de quatro folhas.
Ainda bem que o viveste comigo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Sentido único


A coisa mais difícil de aprender na vida, é escolher que pontes atravessar e que pontes queimar.

David Russell

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Na água das palavras


Em todos os livros, em todos os autores,
em todas as línguas e dialectos te procuro.
Estranhamente encontro-te de todas as vezes
sem grande esforço, porque há sempre
uma rima, uma palavra, uma sílaba
nas águas de um verso qualquer
que em ondas me devolve
o eco do teu riso, suave
como música.

sábado, 16 de agosto de 2008

Palavras corajosas


Coragem é resistência ao medo, domínio do medo e não, ausência de medo.

Mark Twain

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Tocas-me...


Tocas-me o coração
no arrastar tão lento
dos dias que passam...
E levo-te...
Levo-te comigo
para toda a parte,
em todos os silêncios
das horas vazias.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Vox populi, vox Dei


Não há melhor negócio do que a vida. A gente a obtém a troco de nada.

Provérbio judaico

Quase...


É tarde e o sono ri-se, fugidio.
Quase chove... quase...
e um manto negro cobre a cidade gelada
esquecida da lua e das estrelas.
Quase me parece inverno
no arrepio da pele pouco agasalhada...
Quase julgo ouvir a voz dos ciprestes
num lamento verde e inquieto...
E contudo, não há vento
nesta quase solidão a que me entrego.
Tudo está tão sereno... tão parado...
Quase... quase paz...
Quem dera pudesse ser em mim.

domingo, 10 de agosto de 2008

Entre nós


Por vezes a vida coloca-nos em caminhos íngremes, sinuosos e gelados... e sentimos de repente muito medo de tropeçar, cair e não conseguir seguir viagem...
Não me largues a mão... contigo do meu lado sei que consigo vencer qualquer estrada.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Sentido único


Os amigos verdadeiros são aqueles que vêm compartilhar a nossa felicidade quando os chamamos, e a nossa desgraça sem serem chamados.

Demetrio de Falera

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Puramente psicológico


Talvez seja psicológico, como tu dizes. E eu gostava mesmo que compreendesses que a sensação se inicia antes de entrar, quando os meus passos atingem a escadaria que é necessário subir. Depois, uma vez lá dentro, a espiral de sensações psicológicas desenrola a sua vertigem angustiante. Como uma bofetada, o cheiro atinge-me penosamente, revolta-me o estômago roubando-me a serenidade. Diz-me: Como se ignora um cheiro? De seguida, inicia-se a caminhada solitária por corredores vazios como mares gelados, subidas de elevador e novamente os corredores desertos, cheios do cheiro que me tortura, psicologicamente irrespiráveis. Atrás de cada porta fechada ou entreaberta, transpiram sons agudos, metálicos, frios, dolorosamente audíveis. Característicos. Ignorando o formigueiro nas mãos, a fraqueza nas pernas, o bater descompassado do coração, inalo a força na esperança de te encontrar bem. Procuro o número do teu quarto e entro finalmente, eu e o cheiro, porque os sons ficam do lado de fora. Menos mal. Finalmente junto de ti, é então necessário disfarçar, sorrir-te, conversar, desfiar as novidades, enterrar bem fundo a preocupação que teima em flutuar traiçoeiramente na luz dos meus olhos ao ver-te tão frágil, tão sumida... esconder de ti, que me conheces bem demais, o medo que sinto, a lágrima fugitiva...
Quando faço o percurso no sentido inverso e abro as portas de vidro que me atiram para a cidade, como explicar-te que é com alívio que respiro o ar cá fora, tentando limpar o cheiro colado a mim, que carrego baterias ao olhar apenas o céu imenso, finalmente livre das grades daquelas paredes brancas e lisas, dos sons que me algemam, dos cheiros que me acorrentam?
Talvez tu tenhas razão... O medo... a falta de ar... a sensação de afogamento... É uma questão puramente psicológica.
E amanhã será decididamente diferente. Prometo-te.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Palavras bíblicas


No meu leito nas noites busquei
o que amou a minha alma
busquei-o e não o achei.
Levantar-me-ei agora e vaguearei
pela cidade, pelas praças, lugares amplos
hei-de buscar o que amou a minha alma,
busquei-o e não o achei.

Salomão, Cântico dos Cânticos

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Colado a mim


Tenho palavras coladas a mim
por dentro, bem fundo...
e magoam-me a voz
só porque não encontraram
o teu sorriso
hoje.