terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Noite perfumada



O cheiro invade toda a casa, sobe etéreo a escadaria, ocupa o piso de cima... Está por todo o lado, este cheiro mesclado de canela, mel, limão... este cheiro quente a lenha ardendo com serenidade, crepitando alegre na minha lareira, estalando em gargalhadas queimadas com arrastada lentidão, este cheiro a velas e biscoitos acabados de cozer... É o perfume do Natal. Esta noite escorre já das paredes, infiltra-se nos armários e nos cantos mais escuros, inunda as gavetas numa onda morna de saudade. A memória não me trai, este é o cheiro do Natal, o mesmo de que lembro desde que existo, o cheiro do Natal da minha infância. Sento-me cansada a olhar a serenidade da casa adormecida... É um cansaço bom, o cansaço quente e perfumado da véspera de Natal. Todos os anos se repete e é sempre o mesmo. Todos os anos sinto esta magia que se aproxima silenciosa, se insinua no escorregar das horas, deixa o coração ternurento e agasalhado... Deixa o meu corpo pesado, cansado, desejando repousar no teu abraço, querendo encostar a cabeça no teu peito e ouvir o bater do teu coração, nesta quietude perfumada de uma noite mágica e única que se faz anunciar com meiguice...
A noite de Natal.

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